Maneco e Don’Ana
– E há de ser um tempo de tanto luxo e riqueza que as pessoas vão pintar os olhos e as mãos e as bocas e os pés de colorido. As mulheres e os homens também, todos juntos.
E Maneco começou a chorar e a segurar a cabeça entre as mãos. “Ai meu Deus, é isso mesmo. Ai meu Deus”. E se dobrava para a frente sentado no banquinho tosco da cozinha. Lá embaixo, depois das bananeiras, o mar de Ubatuba explodia em azul e verde.
Don’‘Ana continuou:
– Um tempo de tanta riqueza que o chão e o céu vai tudo se encher de carro, tudo cheio de gente pintada.
“Ai, ai , ai , meu Deus”- Maneco chorava. Eu me sentia muito estranho. Aquele velho magro e musculoso, desdentado, só de calçao, chorando sem ter bebido. A mulher contando a história que sua avó índia lhe contara.
– E isso vai durar muito tempo, e vai ter cada vez mais gente. Mas ninguém vai querer trabalhar. Mas como ninguém vai trabalhar, ninguém vai ter emprego e as coisas vão acabar.